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Estudantes do Proeja do IFSP têm textos publicados em Antologia Literária

Projeto proporciona que alunos da Educação de Jovens e Adultos transformem experiências de vida em literatura

  • Publicado: Quinta, 11 de Dezembro de 2025, 15h59
  • Última atualização em Quinta, 11 de Dezembro de 2025, 16h47
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Estudantes do Proeja e a professora Andréa durante o lançamento do livro, na Câmara Municipal de São Paulo.Onze alunas e um aluno do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, na modalidade Educação de Jovens e Adultos (Proeja), do Campus São Paulo Pirituba, tiveram textos de sua autoria publicados no 3º volume do livro Antologia Literária, que tem como tema “Todas as vozes, todas as histórias”. A criação e publicação do livro integram um projeto que estimula e valoriza produções literárias de estudantes da Educação de Jovens e Adultos de várias instituições de ensino da cidade de São Paulo. O idealizador e proponente da iniciativa é o professor e vereador Eliseu Gabriel, e o lançamento da obra aconteceu no dia 28 de novembro, na Câmara Municipal. 

De acordo com a professora Andréa Cotrim, responsável pela orientação dos discentes na produção dos textos, o projeto teve início na disciplina Leitura e Interpretação de Textos, do Proeja. A docente relata que os alunos trabalharam com vários gêneros, como diário, relato e relato autobiográfico, entre outros. 

“Propus leituras como O Diário de Anne Frank e Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. Os alunos se identificaram muito com a escrita de Carolina, objetiva e sensível, e uma aluna me disse: ‘Se ela pode escrever com esses erros, eu também posso!’”, contou. 

Andréa relata que, a partir de então, começou a trabalhar com o conceito de qualidade literária, explorando as razões pelas quais Carolina é lida no mundo inteiro. “Sem esquecer daquela afirmação da aluna, pensei: por que não ter alunos escritores?”. 

A professora passou, então, a trabalhar com dinâmicas de sensibilização para a escrita criativa, dando atenção às narrativas sensíveis que os alunos traziam, muitas delas pontuadas por descaso e violência, mas também superação. 

Nesse processo, os alunos passaram a escrever seus relatos autobiográficos, o que ocorreu em etapas, pois, segundo a professora, muitos precisaram passar por um processo de letramento digital para aprender a usar o e-mail, compartilhar arquivos, editar textos etc. Foi então que a Andréa tomou conhecimento do projeto sobre a Antologia Literária e resolveu inscrever os textos dos seus alunos para participarem da obra. 

"Os estudantes do Proeja também transformaram em palavras o que tantas vezes é silenciado, mas precisa tomar forma, se manifestar. E quando a palavra é tomada por aqueles a quem a educação formal foi tantas vezes negada, ela se torna um ato político, um ato de libertação", relata a professora Andréa Contrim. 

Em um resumo para o livro, Andréa descreveu que os relatos autobiográficos dos alunos nascem de “um encontro entre vozes — vozes que resistem, que lembram, que sonham... e que compartilham fragmentos de suas trajetórias, suas dores e conquistas, suas vivências e seus modos de ver o mundo".

Os alunos escritores são: Sonia Maria Ribeiro Ramiro, Sebastiana dos Santos Dias da Silva, Neura Maria de Oliveira Telles, Maria Leonarda Pereira de Sousa, Francisca da Chagas Costa Santos, Angeline Pierre, Scorty Moise, Ana Keyla Porfírio de Santana, Maria de Lourdes dos Santos Moreira, Janice Nunes Jopetipe, Valéria Salles e Maria Leda Felix de Carvalho. Esses estudantes têm idades entre 34 e 70 anos, e alguns deles ficaram mais de 30 anos longe dos bancos escolares. Vamos conhecer um pouco da história de alguns deles. 

Neura Telles, de 65 anos, conta que veio para São Paulo muito jovem e não teve a oportunidade de estudar. Casou-se aos 15 anos e criou as duas filhas com muita dificuldade. Nem imaginava que, depois de 50 anos, teria a oportunidade de voltar a estudar. “O Proeja foi uma luz em minha vida, uma bênção. Na verdade, eu nunca imaginei que um dia estaria no Instituto Federal! Uma oportunidade única que está mudando a minha vida. Agora, sinto que sou capaz e posso continuar sonhando! A gente encontra muito apoio por parte dos professores. No começo, fiquei um pouco preocupada porque tenho baixa visão, mas os professores, para eu poder participar, com carinho, mandam imprimir os textos com letras maiores! E para os outros colegas com dificuldades também. Assim, conseguimos acompanhar. Sou muito grata a todos”, afirmou. 

Janice Nunes, de 50 anos, é mãe de um casal de filhos, de 20 e 17 anos. Ela trabalha como frentista e conta que passou cerca de 25 anos até conseguir retomar os estudos no ano passado. Segundo ela, o Proeja tem sido fundamental na sua vida. “Graças a este programa, pude conciliar o ensino médio com a formação profissional, o que me permitiu adquirir habilidades e competências essenciais para o mercado de trabalho. Além disso, me proporcionou a oportunidade de recomeçar meus estudos e me sentir mais confiante e preparada para enfrentar os desafios da vida. Estou grata pela oportunidade e recomendo a todos que buscam uma formação integral e uma chance de mudar de vida”, afirmou. 

“Parece um sonho ser aluna no IF, eu nunca imaginei que um dia ia ter a oportunidade de ter um texto meu em um livro; me sinto realizando meus sonhos de me expressar o que vivi com minha família. Quero muito continuar e fazer um curso superior”, contou a aluna Valéria Sales. 

Valéria Cristina Lopes de Oliveira Salles, de 56 anos, tem um filho de 28 anos e conta que demorou mais de 30 anos para conseguir voltar a estudar. Segundo ela, retomar os estudos foi algo que mudou a sua vida para melhor e a fez entender que nunca é tarde para realizar sonhos.

Aos 61 anos e mãe de dois filhos, Maria Leda Felix de Carvalho conta que voltar a estudar depois de mais de 30 anos não foi fácil, mas aos poucos foi se acostumando e, mesmo com as dificuldades, foi pegando gosto. “Já gostava de escrever e fazer receitas de comida no trabalho, mas nem imaginava ter um texto meu publicado. Sempre sonhei com dias melhores, e eles chegaram! Eu tenho certeza de que estudar muda o mundo, muda as pessoas, estudar é outra vida. Para meu futuro, eu espero que Deus me dê saúde, muita sabedoria para lidar com tantas diferenças que estamos passando. Pretendo, um dia, trabalhar com serviços sociais”, revelou. 

Ana Keyla Porfírio tem 42 anos, e voltou aos estudos após um período de mais de 20 anos, em 2023. Ela conta que, além de aprendizado, o Proeja proporcionou que ela embarcasse em uma jornada de crescimento e amor. 

Da esquerda para a direita: Angeline, Maria Leonarda, Leda, Sonia, Valéria, Neura, Janice, Ana Keyla, professora Andréa, Sebastiana, professora Hânia, Sonia, Scorty, Francisca.“Os professores foram luzes, compartilhando conhecimento e carinho. Aprendi muito mais do que apenas conteúdo: ganhei valores, confiança e novas perspectivas de vida! Um dos pontos altos foi ter contribuído para a criação de um livro. Imagina a emoção de ver suas palavras, ideias e esforços materializados em algo concreto que pode inspirar outras pessoas... Essa conquista trouxe uma alegria transbordante de gratidão por cada pessoa que fez parte dessa caminhada”, afirmou. 

A professora Andréa afirma que pretende continuar com o projeto no próximo ano. “Percebi (percebemos) como a escrita empodera alunos afastados, por tanto tempo, da rotina escolar. Quanto a mim, posso dizer que essa atividade enriqueceu bastante a minha prática docente, enchendo-me de orgulho e da sensação de dever cumprido”, revelou. 

Quem desejar acessar a versão digital do livro pode solicitá-la pelo WhatsApp: (11) 93313-4012

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