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Professora do IFSP recebe Prêmio de Melhor Tese de Geografia Humana

Publicado: Quinta, 21 de Outubro de 2021, 12h26 | Última atualização em Quinta, 21 de Outubro de 2021, 12h33 | Acessos: 6031

Docente do Câmpus Hortolândia desenvolveu trabalho pioneiro na área de energias renováveis  

A tese “Acumulação por despossessão: a privatização dos ventos para a produção de energia eólica no semiárido brasileiro”, defendida por Mariana Traldi, professora de Geografia do Câmpus Hortolândia, recebeu o Prêmio Maurício de Almeida Abreu (homenagem a um importante geógrafo brasileiro) de melhor tese de Geografia Humana pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ANPEG).  O prêmio recebeu teses de todo o Brasil, defendidas entre os anos de 2019 e 2020. 

Mariana recebendo a premiação online da ANPEG

 

A premiação ocorreu durante o Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, realizado online entre os dias 10 e 15 de outubro deste ano. A tese foi defendida em julho de 2019, na Unicamp e teve como orientadora a professora Arlete Moysés Rodrigues. 

De acordo com a autora, a tese discute o acesso e controle dos territórios de elevado potencial eólico no semiárido brasileiro pelas empresas de geração eólica. “Entendendo que a energia eólica, nos moldes atuais, emerge como uma importante aliada no combate às mudanças climáticas no mundo e que seu uso vem se ampliando rapidamente, busquei juntamente com a minha orientadora compreender como esse processo vem se desenvolvendo no Brasil e mais especificamente no semiárido brasileiro”, contou Mariana.  

Segundo a professora, a maior preocupação da pesquisa dizia respeito à apropriação privada do vento e de terras pelas empresas de geração eólica, bem como quem são os agentes envolvidos neste processo e qual é o papel desempenhado por cada um deles, em especial, pelo Estado brasileiro. “Importante destacar que a pesquisa foi desenvolvida sempre buscando identificar as principais contradições inerentes a esse processo e os nexos que interconectam o interior semiárido brasileiro e a totalidade mundo”, completou. 

Mariana apresentando a tese à banca de avaliação em 2019

 

A pesquisadora acredita que o estudo resultou em muitas descobertas, já que, segundo ela, trata-se de um trabalho pioneiro no Brasil e no mundo. De acordo com Mariana, a literatura nacional e internacional, até então existente, se preocupava em discutir: os avanços e inovações técnicas e tecnológicas dos equipamentos de geração eólica, bem como seus impactos ambientais e os aspectos econômicos, tal qual a geração de empregos pela atividade ou possíveis ganhos para economia local – tema que ela mesma havia estudado no mestrado. O que não era estudado, de acordo com ela, era o acesso, controle e apropriação dos territórios pela indústria eólica e mais especificamente os contratos de arrendamento eólico e a renda da terra.  

Mariana explica que essa ausência na literatura se justifica tanto pela dificuldade de acesso aos contratos de arrendamento eólico, que são sigilosos, como também pela novidade da temática, especialmente no Brasil. “Revelar como os contratos se tornam instrumentos formais de promoção da despossessão do vento, de terras e das formas de reprodução social antes existentes no semiárido pelas empresas de geração eólica é certamente um dos resultados mais importantes da pesquisa desenvolvida”, afirmou. 

"Revelar a contradição que se estabelece entre produção de energia “limpa” e combate às mudanças climáticas e às ilegalidades contratuais, injustiças territoriais, roubo e esbulho de terras e direitos, grilagem de terras, desapossamento e expropriação do direito à terra e das diversas formas de reprodução social existentes no sertão brasileiro cometidas pelas empresas de geração eólica, em muitos casos com a conivência de órgãos estatais, é certamente outro importante resultado da tese defendida".

Para além disso, segundo a autora, a tese resultou ainda em um “raio x” dessa situação geográfica. “(...) identificamos desde os agentes locais, como os proprietários de terras e posseiros, até os agentes globais, como fundos internacionais de pensão e de investimento que são proprietários de parques eólicos no Brasil. A partir desta identificação, investigamos as relações estabelecidas entre eles e os fluxos de capital. De modo que, ao final pudemos compreender os nexos existentes entre as mais diversas escalas geográficas e identificar quais empresas e instituições financeiras se apropriam de terras no semiárido brasileiro e dos lucros obtidos na geração eólica”, contou. 

Mariana relata que tanto ela quanto sua orientadora ficaram felizes e emocionadas com a premiação e o reconhecimento não só do trabalho, como também da qualidade da pesquisa que desenvolveram, principalmente nos tempos de hoje, que se observa tanto descrédito em relação às Ciências Humanas e ao papel que elas desempenham na sociedade. É muito importante ver quão relevante são e que os pesquisadores da área de Humanas desenvolvem conhecimento, o qual pode efetivamente melhorar a vida das pessoas a partir da crítica social.  

A professora disse que o apoio que recebeu por parte do IFSP, a fim de que conseguisse se dedicar ao doutorado, fez toda a diferença para que ela conseguisse desenvolver um trabalho tão bom. “Quando eu estava no segundo ano do curso de doutorado consegui afastamento remunerado junto ao IFSP (...) Inclusive pude fazer o doutorado sanduíche nos EUA, o que mudou os rumos da minha pesquisa e que vem abrindo as portas para redes de pesquisadores fora do Brasil”, revelou.  

Mariana conta ainda que, desde o seu ingresso no IFSP, ela tem orientado estudantes de Iniciação Científica na mesma temática que pesquisou no doutorado. Segundo a professora, alguns desses estudantes já foram premiados no Câmpus Hortolândia pela qualidade do trabalho desenvolvido. A pesquisadora acredita que os resultados do seu trabalho podem subsidiar ações de pesquisa e extensão no IFSP, bem como em outros IFs do Brasil, que oferecem cursos na área de Energias Renováveis.  

Acesse aqui a tese na íntegra. 

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